Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa no passado dia 1 de Dezembro de 2009, a trilogia: Tecnologia, Inovação e Conhecimento; foi objecto de um reconhecimento político e formal, em termos europeus, que coloca novos desafios competitivos e renovadas responsabilidades a Portugal.
O nosso país quer-se mais ambicioso, na medida em que para recuperar do seu retardamento estrutural e cultural, em especial, ao nível das mentalidades, é imperioso repensar as estratégias de especialização produtiva com um objectivo, ou seja, transformar Portugal na Gazela Ibérica.
A concretização deste objectivo passa por trazer as instituições de ensino superior (IES) para o centro de gravitação do processo de criação de novas indústrias e especializações produtivas, através do incremento das relações IES-empresas e do salto qualitativo das iniciativas de transferência e comercialização de tecnologia, mediante a exploração integrativa do mecenato científico.
Além disso, a aposta inequívoca numa economia baseada em serviços deve alicerçar-se na criação de novas ofertas ligadas às ciências da administração, mas, sobretudo, da engenharia e da saúde, pois estas assumem uma importância primordial para o salto tecnológico do hardware produtivo de uma dada economia.
Assumir a condição de Gazela Ibérica coloca sérias exigências à economia portuguesa, designadamente, crescer mais do que as suas congéneres europeias. Como operar tamanho milagre, perguntarão os mais descrentes? A resposta reside em dois factores que têm de ser, forçosamente, (re)implantados na mente dos Portugueses, ambição e confiança.
Com formas de empreendedorismo ambicioso, baseado na incorporação intensiva de tecnologia e conhecimento, balizadas por objectivos de crescimento que suplantem a média europeia, será possível retomar a convergência, e a coesão económica e social.
A meu ver, os investimentos públicos em infra-estruturas de suporte às actividades criativas de educação, cultura, apoio social e investigação e desenvolvimento (I&D), e também em redes de comunicações, serão um braço armado para catapultar uma nação singular que enfrenta um sério problema de falta de ambição e confiança, com efeitos directos nos índices de crescimento e produtividade. É preciso um melhor Estado, orientado para formas inteligentes de procurement institucional, que acelere o processo de crescimento, numa lógica consubstanciada em exigências crescentes no que respeita à procura de novos serviços de elevada sofisticação com aceitação e penetração internacional.
Para crescer mais do que as outras nações europeias, é fundamental exportar, e para tal suceder, devem estar resolvidas, a montante, as apostas estratégicas, em matéria de especializações produtivas portuguesas, e a jusante, as formas de internacionalização, com foco num domínio efectivo dos canais de distribuição e na propriedade exclusiva de activos intangíveis e específicos, tais como, as marcas e as patentes.
Voltando ao centro de gravitação do processo de crescimento, que se quer ver acelerado, deve sublinhar-se que a comunidade académica de docentes, investigadores, funcionários e alunos, deve dar o exemplo, através da validação internacional da sua investigação fundamental e aplicada, e da maior abertura às instituições que com ela interagem. A palavra de ordem, tem de ser mesmo, superar vários patamares de certificação de qualidade e validação de processos orientados para a excelência.
Para fechar o ano, com uma visão positiva, Portugal tem tudo para ser a Gazela Ibérica, apenas lhe faltam doses psicológicas de ambição e confiança.
Mais digo que, não há políticas públicas milagrosas, mas se os habitantes do nosso país mudarem de atitude, passando a ser construtivos, produtivos e menos preocupados com o andamento da vida alheia, teremos um país dinâmico, transformador, centrado e orientado para o exterior. Aliás, como sucedeu outrora quando estrategicamente decidimos controlar factores intangíveis que viriam a determinar as trajectórias tecnológicas não só dos dois países da Península Ibérica, mas também das restantes nações de um mundo verdadeiramente globalizado por iniciativa dos países ibéricos. É bom sublinhar que, os habitantes de Portugal sempre tiveram ambição e confiança nas suas capacidades de conquista além-mar, foi por isso que há 521 anos atrás dobraram o Cabo da Boa Esperança.
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