Em cenário de regionalização, investigadores defendem melhores acessibilidades para evitar periferização da região.
Coimbra terá tanto mais encanto quanto mais próxima se tornar. Regionalizar significa novas centralidades. O que parece ser o pacífico mapa das cinco regiões-plano dilui a região da Beira Interior, proposta por António Guterres em 1998, num espaço mais vasto, do Atlântico à fronteira com Espanha. Se a lógica das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional se mantiver, Coimbra será o centro administrativo de uma futura região Centro. Amplas questões começaram a surgir, nomeadamente com a periferização da Beira Interior em relação a uma região e a uma centralidade regional de Coimbra que se poderá reforçar.
Se na opinião de João Leitão, investigador do Instituto Superior Técnico, de Lisboa, não está em perigo um esvaziamento dos serviços públicos das capitais dos dois distritos da Beira Interior (Castelo Branco e Guarda) em favorecimento de Coimbra, o que se revelaria problemático pela empregabilidade que mantém, já outras questões se levantam com alguma seriedade. “O que me parece é que as questões das acessibilidades ao interior deveriam ser recolocadas. A centralidade que existe desfasada para o litoral da região Centro é que deveria ser, de alguma forma, trabalhada, ou seja, as vias de acesso a esse litoral, designadamente a Sul, via Castelo Branco, e a Norte, via Guarda”.
O investigador do Técnico diz que “fala-se dos túneis, mas haverão, eventualmente, outras alternativas que podem ser consideradas, soluções de estradas não tão onerosas que permitam a redução do tempo de viagem para o litoral e na região Centro não é só a cidade de Coimbra. Há que considerar também o papel de Aveiro, a Norte, e de Leiria, a Sul. Essa aproximação com os centros principais da dita faixa interior, designadamente Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda e Viseu só pode ser por essa via”.
Se a região se aproximar de Coimbra “não tem que haver qualquer tipo de temor face à concentração ou à mudança de serviços. O que tem que haver é uma preocupação em prol da melhoria dos índices de mobilidade dentro desta região. A região Centro quer-se interligada, quer-se a funcionar em rede”. A regionalização “será outro mecanismo ao nível das instituições, será outra rede de base institucional que pode facilitar, estimular o trabalho em rede, a partilha de recursos, as formações partilhadas por diversas instituições e dirigidas para diferentes públicos e eliminar duplicação de investimentos”.
Já Jorge Reis Silva, docente na Universidade da Beira Interior, recorda uma entrevista dada ao Jornal do Fundão pelo professor José Reis ex-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro onde “classificava precisamente a falta do IC 6 como o grande buraco da região centro. Já desde essa altura quadros ligados a vários quadrantes políticos achavam que, de facto, que essa ligação era crucial para desencravar a nossa região. Claro que o aspecto do IC 6 tem que ser colocado com uma dupla finalidade: ele é tão importante para nós como ligação ao litoral como é importante para o litoral na ligação ao interior.” E neste cenário surge o IC 31 como factor “importante para pôr o litoral em contacto directo com a maior fronteira de passagem de mercadorias de passagem para Espanha, que é Vilar Formoso, mas também para colocar uma ligação praticamente directa com Espanha. Ou seja uma ligação a Norte e a Sul da Beira Interior com o território de Espanha”.
O especialista em acessibilidades e mobilidade lembra que “se nós traçarmos uma linha recta da Covilhã até Coimbra ficamos a perceber para percorrer esses 72 quilómetros, na melhor das hipóteses, nós levamos duas horas, não contando com a ligação sobre a Serra da Estrela, que nem sempre nos serve durante todo o ano e nem é alternativa para determinados tipos de transportes”. Jorge Reis Silva pede que sejam reavaliadas as prioridades ao nível viário e aferir “o que é realmente estratégico ou não”.
Por Nuno Francisco, Célia Domingues e Lúcia Reis
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